21/01/15

Das ausências e doutros petiscos

Diz um dos meus sobrinhos que «quando tio não aparece nem posta nada no Facebook é porque está cheio de trabalho.»
Nem mais: trabalho é coisa que, felizmente, não tem faltado nos últimos tempos.
Porém, como a comida é coisa que praticamente todos os dias tem que ir à mesa cá na Pensão Estrelinha, aqui ficam alguns apontamentos daquilo que tem sido dado a provar e merece figurar neste blog.

A todo o vapor.
Vi há tempos numa reportagem da televisão que os camarões do Eduardo das Conquilhas são tão especiais por serem cozidos no vapor.
Pensei então de mim p'ra comim e vai de experimentar com mexilhões. Também já testei com camarão congelado e em «ambos os dois» casos os resultados foram fantásticos.
Eu uso um wok para levar a água a ferver, depois panela chinesa de cozer a vapor em cima e é só deitar os fruit de mer lá para dentro.
No caso dos camarões, é preciso usar bastante sal e ter o cuidado de os ir virando, para deitar mais sal.
Quanto aos mexilhões, acompanhei-os com 3 dentes de alho cortados grosseiramente e, quando começaram a abrir, é que os brindei com sal, pimenta-preta moída na altura e uns bons pingos de sumo de limão.


Directamente da Sertã
Preparado que, devido ao aspecto em cru, parece ter acabado de chegar do laboratório do Dr. Frankenstein, o Maranho da Sertã é mesmo para quem não tem medo de filmes de terror.
Apesar de não apreciar sobremaneira Terror movies, não resisto a provar praticamente todas as iguarias que, do alto dos meus quase 56 anitos, ainda não me passaram pelo prato.
Assim, chegado ao talho do Vasco, vai de perguntar ao Samuel:
– Isto é mioleira de carneiro? 
Não vejo bem e a embalagem de vácuo estava junto à secção do borrego.
– Qual quê! – responde o marafado – Isso é bucho de cabra, mas como é o original, enrolado mesmo na tripa do bucho da cabra, chama-se Maranho. Uma senhora que é de lá e que me disse que os fazia quando era nova, já levou e diz que estes são muito bons.
Pois é, oh Samuel, de facto são bons, mas caros p'ra caraças. Por esse preço tinha comprado bife do lombo... mas teria ficado sem saborear uma comida para homens de barba rija e pêlos no peito!
Então vamos lá: 

Ingredientes
Carne de cabra
arroz
carne de porco Monte da Lameira (alto lá!!!)
toucinho
bandougas (a pele do bucho)
vinho branco
presunto
hortelã
sal
alho
pimenta

Acompanhamento
Legumes da época
Batata frita caseira

Confecção
Retirar do frigorífico e abrir a embalagem do Maranho 20 minutos antes de cozer em água a ferver durante 15 minutos. À água há que acrescentar um bom ramo de hortelã.

Resultado
O maranho ou é para gente da terra que, pelo que me foi dado ouvir, fica completamente viciada e não pode mesmo passar sem ele, ou para quem, como eu, gosta de experimentar de tudo um pouco. 
É forte ao paladar mas, ao contrário do que eu esperava,  aquilo que mais predomina é o aroma da hortelã, mesmo muito, seguido pelo sabor do presunto. Enquanto o gosto da carne de cabra se perde entre aquelas duas grandes potências. Fica, para contento, a textura da bandouga, que muito apreciei.

Atenção:
É necessário usar uma faca MUITO bem afiada para cortar o maranho em fatias, de maneira a que dê para quatro pessoas que não sejam lambonas.
Antes da Sertã, mais uma agradável passagem pelo Aya-Bistro.
Há alguém capaz de resistir a estes nigiris de ovas de capelim?








10/01/15

Cataplana de tamboril

Estava combinado que hoje a Beniko Tanaka era convidada da Pensão Estrelinha. A gripe não a deixou vir mas, antes de sabermos disso, fomos ao mercado de Alvalade comprar tamboril para lhe fazer uma cataplana.
A receita é simples: encontra-se um amigo (João Pedro Dinis) que compra na mesma banca. Como é bué da mais entendido nas artes das sertãs e dos tachos do ca eu, percebe-se que estEmos a comprar no sítio certo, a Banca da Bela, e mai nada.
Guardados os ingredientes no frigorífico, quando chegou a hora de preparar a janta, bastou um tacho de arroz branco (eu gosto de um em especial, mas não faço publicidade porque não me pagam para isso) ao lume, mais uma cataplana com um bom fundo de azeite, cebola, alho, pimento-vermelho, dois bird eyes devidamente desfeitos e um pouco de caldo de peixe (confeccionado cá pelo Je)para dar andamento à coisa. Translúcida a cebola, chega a hora de juntar os camarões aos quais, mal acabados de ganhar aquele tom rosa que nos diz estarem quase no ponto, só faltou intrometer os pedaços de tamboril. Achei por bem, e como mandam as regras, de embeber tudo aquilo num copito de vinho branco. Mais uma salsa picadinha, mais uns coentros picados (Atentem nas diferenças entre picadinha e picados, pois os coentros querem-se grosseiros, ao passo que a salsa se há-de servir finamente torturada: só assim tratadas, tais ervas de cheiro nos oferecem os aromas e sabores que delas esperamos. A torto-mocho, e porque achei que sim, juntei uns pezinos de hortelã, dos quais não me arrependo. 
O resultado foi, quais modéstias à parte, FENOMENAL.
Para rematar a janta, a Joaninha ofereceu-nos umas bolachinhas home-made by the Hanamura.