30/07/11

Batatas fritas à Ramalho

É por de mais evidente que texto assim escrito não podia ser de minha lavra. Encontrei-o no http://gastrossexual.blogspot.com e achei a prosa de Ramalho Ortigão tão deliciosa que não resisti a postá-la aqui. Tomara eu ter manteiga de Sintra, batatas das melhores e frigideira de porcelana para me aventurar em tal preparo:
“... eu vou-vos ensinar a frigir batatas.
Saibam todos os meus adversários o modo por que eu procedo quando intento oferecer aos meus amigos esse delicioso manjar das batatas fritas. 
Está já agora decidido... Não! não morrerás comigo, ó doce, ó bom, ó divino segredo!
Apercebo-me mandando vir de Sintra a manteiga mais fresca, e compro as melhores batatas que encontro. Depois disto vou para a cozinha e sento-me à banca das operações. Descasco as batatas cruas, aparo-as escrupulosamente e parto-as em fatias de meio dedo de grossura. Em cima do lume muito brando, quase de um rescaldo, coloco a minha frigideira de porcelana, lanço-lhe um bocadinho de manteiga e vou alourando pouco a pouco, branda e sucessivamente, as minhas rodelas. É uma operação para que se não quer pressa, mas dedicação, mimo e paciência.
Depois de meio fritas, as batatas, vou-as retirando e pondo à janela ao ar. Terminado este primeiro serviço, faço atear uma forte fogueira e reponho no lume a frigideira com um grande naco de manteiga. Quando esta, derretida, principia a saltar em bolhas de fervura, lanço-lhe outra vez as batatas afogadas na manteiga em ebulição, empolam então pronta, rápida, portentosamente e cada uma das rodelas toma logo uma forma esférica. 
É admirável, é quase miraculoso o resultado deste processo. A batata fica fofa, amanteigada, farinhenta, inchada, leve e mole como uma filhó ou como um sonho!”

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