CHOUPA foi sempre nome de peixe que associei ao Algarve, especialmente a Armação de Pêra, no tempo em que esta aldeia de pescadores era uma verdadeirda pérola onde valia a pena passar férias (o mesmo se passou com Tróia, que conheci quando apenas existiam as cabanas dos pescadores, o posto da GNR e o de Primeiros Socorros e uma banca de gelados... o resto era só areal e aquela junção abençoada pela Natureza onde, sob o olhar atento da Serra d'Arrábida, Sado e Atlântico se fundiam para gáudio dos golfinhos e dos melhores salmonetes que existem em todo o Mundo e arredores!
Como ia dizendo, para mim, até há pouco tempo, CHOUPA era sinónimo de peixe que só existia nas águas do Algarve, daqueles que eu pescava, mas só depois de ir a Portimão com o Sr. Bon de Sousa e o filho comprar casulo (isco = minhocas), em grande quantidade. O Zé Bon de Sousa encarregava-se de empatar os anzóis para nos proporcionar todas as munições necessárias à faina. Além das choupas, volta e meia lá vinham uns sarguitos e uns robalitos no fio do anzol.
Estávamos entre o final da década de 1960 e o início da década de 1970, e eu, que nem sequer era apreciador de peixe (só os Japoneses o sabem cozinhar sem espinhas), saboreava deliciado as choupas bem fritinhas pelas cozinheiras da já desaparecida Pensão Central de Armação de Pêra.
Ainda não avancei para a cozinha, porque tudo isto são memórias que me sabem tão bem saborear.
A culpa disto tudo é da Daysi, porque quem tem cão na zona de Lisboa e quer levar o canídeo à praia, só pode ir para a Fonte da Telha, depois da zona dos restaurantes e cafés.
Maravilha! É precisamente aí que os pescadores começam a puxar redes a partir das 7 da tarde... E nas redes, além de MUITAS cavalas, vêm Choupas. Depois de grelhadas e saboreadas, e saboreadas e grelhadas no carvão, as choupas mereciam outro destino: o sal foi o seu destino.
O resultado não foi perfeito, mas também não esteve longe disso. A sócia encarregou-se de eviscerar as choupas (o que é essencial), mas eu passei ao largo a parte de misturar o sal com uma clara de ovo e limitei-me a molhá-lo com água (será aqui que reside o segredo de o peixe deixar a pele colada ao sal?).
Passemos à acção: 5 choupas (duas grandes e três pequenas) Forno pré-aquecido a 220°C, cama de sal em tabuleiro forrado com folha de alumínio (só para facilitar a limpeza), as barrigas das choupas preenchidas com meia rodela de imão e uma rodela de chouriço de Seia. Depois as choupas bem cobertas de sal e a seguir 40 minutos de forno, para obter um peixe que não há palavras para descrever em termos de textura, suculência, sabor ou aroma.
Experimentem, com choupas ou outros peixes, tendo apenas em atenção que o sal não pode ir para o prato.