Creio que já aqui referi que, pelo menos para mim, é sempre um quebra-cabeças arranjar acompanhamento para os pratos principais. Quando duas das hóspedes cá da casa poucas aventuras me permitem neste domínio para além de batatas fritas, esparguete, massas com natas, cogumelos e bacon, arroz branco, batatas assadas a murro ou salada (apenas com alface e cenoura), é evidente que a imaginação depressa se esgota.
No entanto, depois de preparar um lombinho de porco assado (e de fritar umas batatas para as raprigas) decidi que eu e a minha mulher não devíamos ficar sujeitos a esta «ditadura» da juventude e resolvi arriscar algo diferente.
Há uns anos, li uma tirada do António Lobo Antunes em que dizia mais ou menos isto: «acho que estou a ficar velho, porque comecei a gostar de sopa». No meu caso, acho que estou a ficar velho porque, além de me terem sabido muito bem umas pescadinhas de rabo na boca que já aqui apareceram (e que eu DETESTAVA em miúdo), optei agora por outro produto que nunca foi do meu agrado: Farinheira. Isso mesmo: gosto muito de cozido à Portuguesa, mas sempre pus de parte a farinheira.
Armado então de grande coragem, comprei uma farinheira (de muito boa qualidade, pelo que me disseram no talho) e cozia-a durante 10 minutos (tempo a mais, mas há que ir por tentativa e erro). Depois, num tacho de barro, deitei um bom fio de azeite, 2 dentes de alho picadinhos, cogumelos Brauner e bróculos já previamente cozidos com uma pitada de sal. Tapei e deixei que suassem as estopinhas. Entretanto, cortei a farinheira em rodelas bem grossas. Quando os bróculos e os cogumelos estavam quase no ponto, juntei a farinheira e mexi com cuidado por várias vezes. Apurei temperos de sal e pimenta-preta moída na altura e foi só levar para a mesa.
Posso garantir que casou na perfeição com o lombinho de porco assado.
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